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quarta-feira, 17 de maio de 2017

CLIMA PODE FAVORECER SECAGEM DO CAFÉ

CLIMA PODE FAVORECER SECAGEM DO CAFÉ
Williams Ferreira1, Marcelo Ribeiro2
(Viçosa, 16.05.2017) - Nas últimas semanas, as principais regiões produtoras localizadas na região central do país têm experimentado um tempo mais seco, com poucas chuvas. Nos estados de Goiás, Mato Grosso e no norte do Mato Grosso do Sul as chuvas têm ocorrido com um pouco mais de volume, todavia, a redução no volume de chuvas, próprio da estação do ano, tem sido percebido em grande parte do país. Em Minas os dias têm apresentado temperaturas ligeiramente acima dos valores normais para o mês e as noites têm sido relativamente frias.
El Niño e La Niña
Os modelos de previsão climática que monitoram o fenômeno El Niño e La Niña sugerem que pelo menos até o inverno, que tem início no final de junho, as condições oceano-atmosfera de neutralidade - sem El Niño ou La Niña - deverão permanecer.
Diagnóstico das chuvas no mês abril
De acordo com o 5º DISME, abril foi um mês seco no norte, noroeste e em áreas do nordeste e leste de Minas Gerais, por outro lado, no centro-sul e oeste, o comportamento das chuvas foi de transição para a estação seca, com redução das chuvas ao longo do mês, ainda que elas tenham ocorrido nos últimos dias de abril. Devido ao regime de chuvas ocorrido no mês de abril, no último dia desse mês as condições de déficit hídrico foram mais críticas na faixa norte, cujo total acumulado correspondeu apenas a 20% do normalmente esperado para o mês (Figura 1).

(a)

(b)

Figura 3 - Componentes do balanço hídrico, armazenamento de água no solo (a) e déficit hídrico (b), no dia 30 de abril de 2017. Fonte: SISDAGRO – www.inmet.gov.br
Chuvas em junho
Abaixo da média: há probabilidade de que as chuvas ocorram pouco abaixo da média do período nas mesorregiões do Sul de Minas; na porção sul da Zona da Mata (abaixo do município de Ubá); Metropolitana de Belo Horizonte; Campos das Vertentes; Oeste de Minas e no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. Nas demais regiões são esperadas chuvas dentro da média do mês. É importante lembrar que, quando comparado ao mês anterior, naturalmente as chuvas já diminuem em junho devido à estação do ano.
A temperatura
Acima da média: as temperaturas no mês de junho apresentam probabilidade de ocorrência de valores acima da média histórica para todo o estado, com maior probabilidade nas mesorregiões do Noroeste de Minas e Central Mineira. Nos município de Santa Rita do Sapucaí, Pouso Alegre, Itajubá, Andrelândia e São Lourenço (Sul de Minas) e Juiz de Fora, Cataguases, Manhuaçu (Zona da Mata) apresentam probabilidade de ocorrência de temperaturas dentro da média ou muito pouco acima desta.
Comportamento das temperaturas
De acordo com o 5º DISME, que fica localizado em Belo Horizonte, nesta época do ano, as temperaturas são amenas pela amanhã e ao anoitecer, elevando-se, consideravelmente, ao longo do dia. A temperatura máxima apresenta pouca variação de um mês para outro, mas a mínima apresenta queda expressiva de maio para junho, fato esse que ocorre devido ao predomínio de céu claro durante a noite que é uma característica do inverno. As massas de ar frio conseguem chegar ao Sudeste do Brasil com intensidade de moderada a forte, ocasião em que há quedas bruscas de temperatura de um dia para outro e permanência de temperaturas amenas por dias consecutivos. Estas ocorrências são denominadas de episódios frios. Uma característica comum destes meses é a formação isolada de nevoeiros ao anoitecer e pela manhã em várias regiões mineiras. Nas áreas serranas do Sul do estado, a formação de geada torna-se recorrente, principalmente durante os episódios frios.
O trimestre
Para o trimestre junho, julho e agosto é esperado que somente a região do Vale do Rio Doce apresente volumes de chuva acima da média do trimestre. Chuvas abaixo da média do trimestre são esperadas para a região do Norte de Minas na mesorregião de Januária.
O café
Na atual safra, considerando a expectativa de chuvas abaixo da média para o mês de junho nas regiões cafeeiras, aumenta a favorabilidade da produção de cafés com melhor qualidade devido ao tempo favorável para a secagem de cafés, principalmente nos terreiros. Apesar da previsão de clima favorável ao processo de secagem, os cafeicultores devem ficar atentos com o ponto de maturação dos frutos na colheita e com a movimentação do café nos terreiros, principalmente nos primeiros dias, de modo a evitar fermentações indesejáveis, fatores esses fundamentais para a obtenção de cafés de qualidade.
Os cafeicultores devem ficar atentos com a alta infestação da ferrugem do café que já vem sendo identificada em algumas regiões no estado. Deste modo, a utilização de produtos sistêmicos nesta época do ano para o controle da ferrugem poderá reter as folhas infectadas pelo agente causal da ferrugem, aumentando o inoculo residual do patógeno para o início da próxima estação das chuvas - provavelmente a partir de outubro de 2017 - com possibilidade de antecipar o início da incidência da doença na próxima safra. Outro aspecto a ser observado é que a utilização de produtos sistêmicos nesta época favorece a possibilidade de serem detectados resíduos dos princípios ativos aplicados nos grãos, já que estes ficam bioativos nas plantas por até 180 dias. Atenção maior deve ser dada às regiões de montanha do Sul de Minas e nas Matas de Minas, já que pela característica do relevo acidentado dessas regiões, algumas localidades apresentam, mesmo no período frio, umidade relativa do ar mais elevada, fato esse que favorece a ocorrência da infestação da ferrugem.
O prognóstico
A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foi elaborada com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Foram consideradas ainda as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET/CPTEC-INPE. Pelo fato do prognóstico climático fazer referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Sendo de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.
    1Pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG UREZM na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais. - williams.ferreira@embrapa.br ou williams.ferreira@epamig.br
     2Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. mribeiro@epamig.br

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