ESPECIAL CARNAVAL
Bloco Aché resgata um pouco da história do Samba de Roda
Capoeira, miudinho, samba de terreiro, entre outros. Essas são algumas amostras do samba de roda que o Bloco Aché vai levar para a avenida, além, claro, de muita animação e colorido. “Falar em verso e prosa do Samba de Roda não é uma tarefa fácil, mas com certeza estimulante e repleta de emoção. Afinal, nesse ‘Brasilzão’ com tantas diferenças e semelhanças, o samba em geral faz a diferença”, disse o presidente da agremiação, Saturnino Rodrigues Neto.
Fundado há 25 anos, o bloco está bastante remoçado. Vai levar para a passarela cerca de 150 integrantes, a maioria jovens. São garotos e garotas com idade a partir de 16 anos de idade. Nos ensaios, o grupo reforçou a garra do Aché com o “grito de guerra” – Paz. Uma das características do bloco é a batida tradicional do aché, que agora se mistura ao samba e outros ritmos. Há quase três décadas na cidade, a renovação dos integrantes já era esperada, mas a forte tradição de manter as raízes passando de geração para geração, é um fato marcante.
As fantasias e alegorias estão a sete chaves, mas permanece a certeza da originalidade com os tecidos afros e o sorriso largo e exuberante do grupo em todo o percurso da passarela do samba. Em conversa descontraída, Saturnino revelou que o público vai se encantar com as alegorias, inclusive com a presença de violão, cavaquinho, atabaque, entre outros.
O enredo surgiu depois de várias conversas entre os membros da diretoria. De acordo com Saturnino, o objetivo era não focar no óbvio, no que está na moda, mas em algo diferente e que tivesse a ver com a cultura e alegria do povo brasileiro. Aí, acrescentou ele, surgiu o molejo e a graça do samba de roda.
Bateria e Puxador
Criado dentro de uma família de sambistas e percussionistas, uma das revelações que o Bloco Aché leva para a avenida é o mestre de bateria. Aos 16 anos de idade, Gabriel Martins dos Santos já posa para a foto com apito na boca. É o perfil de um mestre de bateria nato. A genética ajuda. Filho de sambista, congadeiro e carnavalesco da escola Acadêmicos do Samba, Gabriel disse que não se intimida. “Na hora que o apito soa, não tem pra ninguém. É a força do batido do Aché e independente das idades dos componentes da bateria, ali eu sou o mestre e tem que haver obediência e sintonia. O apito é a peça chave”, disse.
A bateria do Bloco Aché conta com 50 componentes com idades entre 16 a 60 anos. Na hora dos ensaios eles têm momentos engraçados e de descontração, mas quando o mestre de bateria pega a baqueta... é hora de trabalho e muito rítimo. Para o jovem mestre, o Carnaval de 2014 será a prova de fogo. “Amo o que faço e comandar essa bateria é fantástico. Estou super feliz e tenho a certeza de que vamos arrepiar”, concluiu.
E o Bloco Aché traz outra novidade. O puxador do samba enredo. João Batista Júnior, 20 anos, cantor, sambista e com muita ginga, promete levantar as arquibancadas. O rapaz já tem até admiradoras que garantem que ele tem charme e pinta de um grande puxador, mas é na avenida do samba que o Júnior vai colocar seu talento à prova. Talento esse que também vem de família. Desde criança o rapaz já soltava a garganta. “Nas festas em família, em amigos, e nem meu pai sabia. Com o tempo, formamos um grupo de pagode e aí fomos só aperfeitçoando”, conta. João Júnior faz educação física toca percussão e instrumento de corda, mas procura sempre cuidar da voz. “Evito tomar gelado, não forçar a garganta e cuidar. Desfilo há 10 anos e tudo isso é a minha paixão”.
Origem
Com uma galeria de troféus e medalhas, o Aché já conquistou 16 títulos de campeão dos carnavais em Uberlândia. Houve momentos de grande euforia, mas também de tristeza. Um deles foi a perda da fundadora do bloco, Maria da Graça de Oliveira, “a Graça do Aché”, em 23 de dezembro de 1999.
A peculiaridade deste bloco é a saga familiar que começou com o terno de Folia de Reis, o Moçambique. O terno foi fundado pelo patriarca Manoel Saturnino Rodrigues, conhecido por “Ciricocô”. Este foi apenas o começo, conta Saturnino Neto, a partir daí a família aderiu aos sons e danças de vários ritmos, em especial samba e pagode.
O presidente do Bloco Aché explica que a criação do grupo surgiu de fato em 1988. “A Graça estava assistindo o notíciário de TV e o assunto era sobre os 50 anos da Abolição da Escravatura. De repente, ela disse porque não homenagearmos de forma descontraída e alegre os nossos irmãos como Grande Otelo, Chica da Silva, Martinho da Vila e outros”, disse Saturnino. A partir daí eles convidaram amigos que convidaram outros amigos para desfilar no Carnaval de Uberlândia e alavancar bandeiras tão importantes. Naquela época, diz Saturnino, não era exigido nenhum tipo de quesito, apenas alegria, folia e diversão. Então o grupo criou o estandarte com o desenho de mãos libertas, símbolo que representa a quebra das correntes, a liberdade.
Houve época em que o bloco entrou na avenida com cerca de 500 componentes. Pessoas oriundas das escolas de samba e que gostavam de desfilar e fortaleciam o Aché. Como eram muitos componentes e não havia subvenção do Município, Saturnino disse que eles recorriam aos vereadores para angariar fundos para as fantasias, já que os instrumentos da bateria eram emprestados das escolas. Um fato hilário foi quando a diretoria ganhou um litro de whisky para rifar e ajudar nas despesas. “Rifamos, rifamos, por várias vezes o mesmo litro de whisky por cinco anos e nunca entregávamos para o ganhador. No ano seguinte, olha nós lá de novo com a bebida e assim íamos comprando os adereços, as alegorias e fantasias do bloco. Foi engraçado, mas era tudo com o consentimento do próprio ganhador”, contou ele aos risos. A primeira fantasia do bloco foi uma calça ¾ branca, camiseta branca bordada com o nome da agremiação. Depois de tantos anos, hoje o Bloco Aché vive uma nova etapa e essa geração está apostando em inovações e conquistas na passarela do samba.
Cássia Bomfim
Cultura
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