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terça-feira, 3 de janeiro de 2017

“Padre, e o milagre de São Genaro?”

“Padre, e o milagre de São Genaro?”

“Padre, e o milagre de São Genaro?”, perguntou-me alarmada uma senhora.
Segundo informações do jornal italiano La Stampa, o líquido que segundo a lenda é o sangue de San Gennaro, guardado em uma ampola num relicário da Capela dos Tesouros, Catedral de Nápoles, este ano não se liquefez na data esperada. Assim, não se repetiu o milagre como sempre acontece no dia 16 de dezembro, data em que se recorda a erupção do Vesúvio no ano 1631 quando, segundo acreditam alguns, a intercessão do santo impediu que as lavas do vulcão entrassem na cidade. A população local (e não só local) encontra-se alarmada, pois a ausência do milagre pode indicar um sinal da ira divina.
milagre-san-gennaroDevoções como essa não ajudam à vivência autêntica da Fé. Corteja muito mais com superstições e é, na verdade, um desserviço ao anúncio da Boa-Nova do Evangelho. Enquanto a Igreja faz um esforço por anunciar a Misericórdia e a Ternura Divinas, a cultura de morte também infiltrada em instâncias religiosas disseminam o medo, a tibieza e a propagação de uma imagem distorcida de Deus. O líquido no frasco, se realmente de São Genaro, aponta para nós uma outra realidade.
Condenado à morte no ano 305, segundo conta-se, durante as perseguições de Diocleciano, São Genaro é considerado santo e mártir tanto para a igreja católica como para as ortodoxas. Servo fiel a Cristo, ele não renunciou à sua fé em Jesus Cristo e à sua adesão aos valores do Reino de Deus. Assumiu com coragem seu protagonismo cristão e, num contexto de perseguição e hostilidade ao Evangelho, denunciou com coragem os desmandos dos poderosos e a opressão dos pequenos.
Infelizmente, calamidades ocorrem todos os anos e nos mais diversos lugares, e não são do querer de Deus. De fato, os males presentes no mundo nunca estiveram nos planos de Deus. Eles dizem precisamente do ser humano: “é do coração humano que provém toda sorte de males” (Mt 15, 19-20).
O pecado individual soma-se ao pecado de todos os homens. Nossos pecados juntos tornam pesado o mundo, difícil a vida e acometem-na de profundas feridas: dor, tristeza, lamento e mortes. Há, ainda, os chamados desastres naturais que podem ou não ter a participação humana.
A lenda em torno do “milagre de São Genaro” revela um outro dado muito mais preocupante: a fé de muitos católicos não está centrada na pessoa de Jesus Cristo, não é saudável e não gera verdadeira conversão. E disso nos advertiu o apóstolo: “Tende muito cuidado para que ninguém vos escravize a vãs e enganosas filosofias, que se baseiam nas tradições humanas e na falsa religiosidade deste mundo, e não em Cristo” (Cl 2, 8).
A relação de muitos católicos com Deus ainda se parece com a dos antigos cultos idólatras do Antigo Testamento: vislumbrando um deus terrível e sanguinário, cultuam-no não por amor ou convencimento, mas por medo e interesses escusos. Tais “católicos” são os mesmos que acreditam cegamente em superstições, horóscopos, videntes, em simpatias, vestem-se de branco no ano-novo, pulam sete ondinhas, comem lentilha pra dar sorte, usam trevo-da-sorte e um sem fim de outros amuletos no pulso, no tornozelo, no pescoço, no carro e até em casa.
Sem discernimento e fé autêntica, até mesmo objetos sagrados e de devoção genuína, como o terço, o escapulário de Nossa Senhora, o crucifixo e as imagens dos santos, podem se tornar amuletos em suas mãos. Lamentável!

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